Botas Vento salvam nas trilhas urbanas

Nem lembro mais quando foi a última vez que fiz uma caminhada de mato. Desde que saí do Interior minhas trilhas são na cidade. Ando muito. Aliás muito é muito pouco para expressar a atividade das minhas canelas. Se você conhece São Paulo terá uma ideia do meu 'andar muito': um programa comum é ir a pé de Moema até a avenida Paulista só para almoçar e voltar caminhando, claro.

Se você não conhece a cidade, olha aí no mapa abaixo para entender a dimensão do que estou falando.

Me considero um trilheiro urbano. Talvez até mais que isso, já que minhas caminhadas não são restritas aos finais de semana. Faço tudo o que é possível a pé, não importa a distância. Por conta disso aprendi a ter medo de calçados. Ao longo de minha vida andarilha não houve um tênis ou bota de caminhada que não me deixou na mão nos quesitos conforto e funcionalidade. Depois de amargar tantos tênis caros e descartáveis e tantas botas importadas e assassinas, experimentei bolhas das piores dimensões e ganhei uma dor crônica no calcanhar. Não houve um calçado que não tenha me maltratado. Mas há seis meses, já bem desestimulado de caminhar, decidi subir o sarrafo do investimento para resolver de vez a questão.

Comecei a pesquisar os calçados mais fodas e a opinião de trilheiros tarimbados.

Fechei questão com a suíça Salomon. Havia ouvido falar muito bem da marca mas, até aquele momento, o preço foi maior do que as intenções. Para experimentar aproveitei a oferta de um tênis Salomon que estava em promoção. Minha idéia era partir do tênis para as botas hiking, que custam uma bala. Encomendei dois pares pela internet (um para mim e outro para minha mulher). Quando tirei o tênis da caixa achei o material bem chinfrim. Percebi que minha mulher pensou a mesma coisa. Para manter o entusiasmo trocamos a decepção por elogios na hora de verbalizar. _É...um material bem diferente, né? _É...o modelo é lindo. _Acho que esse material é daquele tipo que parece frágil, mas tem uma puta tecnologia por trás. _É... a gente que não tá acostumado com essas marcas mais 'prófis'. Com a desconfiança devidamente reprimida, calçamos o tênis e fomos para a rua. No caminho, igual a todos os dias, encontramos o pessoal da limpeza passando pano no hall do prédio. Imagine a sensação de tentar andar sobre um chão forrado bolinhas de gude e perder totalmente o controle sobre a capacidade de equilíbrio. Tombaço. Foi isso que aconteceu com a gente. Para mim a patinagem infernal bastou para não querer mais nem saber daqueles tênis. Minha mulher insistiu. Dias depois foi dar uma volta no quarteirão, pegou uma garôa e estabacou na calçada, no meio de um monte de gente. Voltou para casa chorando, com os cotovelos e o amor próprio escangalhados. Escrevemos, postamos, reclamamos e a Salomon Brasil só nos respondeu depois de uns quatro meses dizendo que certamente não havíamos comprado um tênis adequado para a atividade pretendida. Sei lá viu, Salomon. Mas na minha leiga opinião independentemente da finalidade que se tem ao comprar um tênis, o mínimo que se pode esperar é conseguir parar em pé sobre ele. Ou será que não? Depois do tênis-casca-de-banana e da resposta não menos escorregadia da marca, uma coisa é certa: Salomon aqui nunca mais. Voltei para a pesquisa de calçados e acabou que cheguei ao site da Botas Vento: uma empresa brasileira lá do Paraná que produz, artesanalmente, botas específicas para trabalhar e fazer trilhas. Decidi experimentar sem expectativas, até porque havia opiniões bem negativas sobre o produto no site Reclame Aqui. Esperei trinta dias até a chegada do pacote com as botas Vento modelo Finistrerre que, segundo o site da marca, foi inspirada nas necessidades de quem faz o caminho de Santiago. Com Santiago ou sem Santiago, só sei que ao calçar aquelas botas minhas caminhadas mudaram de patamar. Para começar a bota abraça o pé da gente com carinho. Parece que foi feita sob medida. Depois, o nível de conforto é indescritível. Uma bota novinha que entrega conforto igual aos calçados amaciados por muito uso. Pisadas suaves, todinha flexível...nem uma bolha, nem um dedo 'pegando'. Nada! Além de já ter aguentado várias enxurradas sem encharcar o pé, a danada agarra no chão com uma baita segurança, é fácil de limpar e, uma coisa que para mim é super importante, o desing discreto favorece o uso em qualquer ocasião, até para ir a pé para as reuniões de trabalho.

Outros detalhes bacanas são o material vegano e a preocupação da marca em que o calçado não cause transtornos durante viagens. Por isso o material usado no acabamento das botas não apita nos aeroportos. Depois da Finisterre comprei outro modelo na outlet do site por R$ 200,00, tão confortável e estável quanto a primeira. Vale pontuar que os modelos não promocionados custam uma média entre 600 e 700 Reais. Minha mulher e mais duas amigas também decidiram comprar. Estão felizes da vida. Uma das amigas optou pelo modelo de cano longo, com desing mais suave e que, segundo ela, está aguentando com sucesso, conforto e segurança, o dia a dia de umas das regiões mais chuvosas do Brasil. Os pontos negativos ficaram por conta do atendimento e da experiência de compra no site: •Minha compra na outlet oferecia a possibilidade de dividir o valor em até 6 vezes, porém apenas na finalização do check out descobre-se que a única alternativa é o pagamento a vista. •Ainda com relação à compra do modelo promocionado houve um atraso de quase trinta dias, além do previsto para entrega, o que me fez tentar vários contatos com a empresa. Não responderam a nenhum até eu decidir abrir uma disputa no Paypal. Foi bem chato. Se tivesse acontecido na primeira compra, teria limado a marca do meu mapa.

Mas como já havia comprovado a qualidade do produto, o péssimo atendimento online, pelo menos por enquanto, não foi suficiente para que eu deixe de comprar ou de recomendar as botas Vento como uma boa referência de qualidade do Brasil feito a mão. Se você também gosta de andar, confere lá: https://botasvento.com.br Boas andanças!

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